terça-feira, 30 de junho de 2009
segunda-feira, 29 de junho de 2009
quarta-feira, 24 de junho de 2009
O Lamento de Cassandra
Os cavalos estão cansados disse um vez um poeta, eu também estou cansado não da eterna caminhada ou do destino, mas destes desastres que povoam minha mão. Cansado de ser o Oráculo de minhas próprios tragédias e ver um a um meus sonhos naufragar, antes mesmo de nascer. Ver no primeiro sorriso já a dura secura do adeus, prever no silêncio entre aberto depois de um "eu te amo", a deveras dor de saber que a mão que me afaga com ternura e desespero me farás sofrer como um cão. É estar condenado a saber o que o amanhã trará, o que de certa forma atenua todas as partidas, mas anestesia toda a possibilidade de amor.
Os cavalos estão cansados disse um vez um poeta, eu também estou cansado não da eterna caminhada ou do destino, mas destes desastres que povoam minha mão. Cansado de ser o Oráculo de minhas próprios tragédias e ver um a um meus sonhos naufragar, antes mesmo de nascer. Ver no primeiro sorriso já a dura secura do adeus, prever no silêncio entre aberto depois de um "eu te amo", a deveras dor de saber que a mão que me afaga com ternura e desespero me farás sofrer como um cão. É estar condenado a saber o que o amanhã trará, o que de certa forma atenua todas as partidas, mas anestesia toda a possibilidade de amor.
É estar quebrado por todos os amores perdidos, por todas as vezes que o deixou partir, que teve que dizer que é "bom que sejas assim Dionísio, que não venhas", quando tudo que mais queria era agarra-se a cintura de seu amado e implorar para ele ficar. E diante de toda a nova possibilidade de uma promessa de amor perceber que ele não esta ali, é ouvir seu coração bater forte e gritar desesperadamente que o deixe amar, pelo menos desta vez, mas um voz sussurra ao seu ouvido "és apenas uma miragem... uma falsa promessa de felicidade". E assim mantenho a segura distancia que me impedira de sofrer as agruras da dor, quando o inevitável adeus chegar. Porém a mesma distancia que me impede de sofrer é a mesma que me impede de ser feliz...
domingo, 21 de junho de 2009
Salomé
Só, na cisterna, João Batista em prece
Dorme o palácio. Salomé ansiosa,
Quase nua se ergue, e altivamente,
Treme-lhe o lábio aparecendo um beijo,
Paulo Corrêa Lopes
Só, na cisterna, João Batista em prece
sonha. Estente-se a noite silenciosa,
e, na nudez da solidão piedosa,
o desespero que o tortura esquece.
Dorme o palácio. Salomé ansiosa,
como pantera atroz que se enraivece,
em contorções se agita, e se estremece,
debruçada num tálamo de rosa…
Quase nua se ergue, e altivamente,
nos estos da volúpia que a devora,
desprende as tranças sobre a espádua ardente.
Treme-lhe o lábio aparecendo um beijo,
clama pelo Profeta, e anseia, e chora,
nas algemas da carne e do desejo!
Paulo Corrêa Lopes
SALOMÉ
Nessa tua obsessão pelo Batista,
Sentes nas veias do teu corpo em flor,
Vibrar uma vontade ardente, mista
De uma ânsia de posse e de pavor!
Que importa pelos teus fique malvista
A rubra incandescência desse amor?
Salomé, sensual, tu és realista:
Queres é possuir o Pregador.
Os beijos de São João serão troféus!...
Pensas nisto, e divina, esguia e leve,
Voas na dança sutil dos sete véus...
Mas esse amor se enflora na ironia,
Ensangüentado que ninguém descreve:
Teu beijo quente em boca morta e fria...
Nessa tua obsessão pelo Batista,
Sentes nas veias do teu corpo em flor,
Vibrar uma vontade ardente, mista
De uma ânsia de posse e de pavor!
Que importa pelos teus fique malvista
A rubra incandescência desse amor?
Salomé, sensual, tu és realista:
Queres é possuir o Pregador.
Os beijos de São João serão troféus!...
Pensas nisto, e divina, esguia e leve,
Voas na dança sutil dos sete véus...
Mas esse amor se enflora na ironia,
Ensangüentado que ninguém descreve:
Teu beijo quente em boca morta e fria...
.
.
Plínio de Almeida
Salomé
Tantos anos depois
Não faz nenhum sentido,
Estória tão antiga...
— Eu te amo, eu disse,
Em meu vestido azul
Que um girassol floria.
— Eu também.
E teu corpo
Encostado
Ao meu corpo, tremia.
Embriagada eu dançava,
Dilacerando os vestidos.
A interdição entre nós
Crescia como um bicho,
Serpente de pele lisa
E anéis coloridos.
Tantos anos depois
Ainda sonho com isso,
Um brilho de lâmina
E o sangue
A escorrer no ladrilho.
O tempo todo e eu sabia
Que, arrancados os véus,
Restaria o suplício. Restariam
As feridas. Um corpo ausente
E a lenda, de um remoto país
Onde habitei um dia.
Ó funesta tentação
De voltar àquela tarde
Em que dançando selvagem
Ao som de flautas,
Congelei a tua imagem
No fundo das retinas.
O topázio do sol
Ardia como brasa
E eu lavei as mãos
E limpei as sandálias.
No espelho, meu rosto,
Na espessura do silêncio,
Um gotejar de mágoa.
Ainda tintos de vinho,
A cabeleira e os olhos
Acesos como círios.
Tantos anos depois
Não faz mesmo sentido
Mas guardo ainda o espelho
Onde espreito minha sorte,
Onde dia e noite espreito
A sombra que flutua
E se cola
Como máscara, em meu rosto,
Como chaga no coração,
Bem no peito onde o tempo
Enfiou sua adaga.
E danço como nunca mais
Dancei. O rei agora dorme,
Dourado, em seu sarcófago.
Mas ainda tenho os véus,
A bandeja e a espada.
Myrian Fraga
sábado, 20 de junho de 2009
Esfinge
Perto de Tebas, junto a um monte, sobre o Ismeno,
Águia e mulher, serpente e abutre, deusa e harpia,
Tapando a estrada, à espera, - aterrava e sorria
O monstro sedutor, horrível e sereno:
"Devoro-te, ou decifra!" Era fascínio o aceno;
A voz, morna e sensual, tinha afeto e ironia,
Graça e repulsa; e a luz dos olhos escorria
Fluido filtro, estilando um pérfido veneno.
Mas Édipo desvenda o enigma... Ruge em fúria
O Grifo, e escarva o chão, bate contra o rochedo,
Rola em vascas, em sangue ardente a areia tinge,
E fita o campeador no uivar da extrema injúria.
E o Herói recua, vendo, entre esperança e medo,
Rancor e compaixão no verde olhar da Esfinge.
Perto de Tebas, junto a um monte, sobre o Ismeno,
Águia e mulher, serpente e abutre, deusa e harpia,
Tapando a estrada, à espera, - aterrava e sorria
O monstro sedutor, horrível e sereno:
"Devoro-te, ou decifra!" Era fascínio o aceno;
A voz, morna e sensual, tinha afeto e ironia,
Graça e repulsa; e a luz dos olhos escorria
Fluido filtro, estilando um pérfido veneno.
Mas Édipo desvenda o enigma... Ruge em fúria
O Grifo, e escarva o chão, bate contra o rochedo,
Rola em vascas, em sangue ardente a areia tinge,
E fita o campeador no uivar da extrema injúria.
E o Herói recua, vendo, entre esperança e medo,
Rancor e compaixão no verde olhar da Esfinge.
Olavo Bilac
A esfinge
Revesti-me de mistério
Por ser frágil,
Pois bem sei que decifrar-me
É destruir-me.
Revesti-me de mistério
Por ser frágil,
Pois bem sei que decifrar-me
É destruir-me.
No fundo não me importa
O enigma que proponho.
O enigma que proponho.
Por ser mulher e pássaro
E leoa,
Tendo forjado em aço
Minhas garras,
É que se espantam
E se apavoram.
E leoa,
Tendo forjado em aço
Minhas garras,
É que se espantam
E se apavoram.
Não me exalto.
Sei que virá o dia das respostas
E profetizo-me clara e desarmada.
Sei que virá o dia das respostas
E profetizo-me clara e desarmada.
E por saber que a morte
É a última chave,
Advinho-me nas vítimas
Que estraçalho.
É a última chave,
Advinho-me nas vítimas
Que estraçalho.
Myrian Fraga
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Não Sei Quantas Almas Tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
terça-feira, 16 de junho de 2009
Contabilidade
Felicidade se conta com conta-gotas
Felicidade se conta com conta-gotas
Razão inversa das lágrimas que revertemos
Parco retorno de um investimento tão incerto
Que é de se pensar se vale a pena
Igualdade se conta no contracheque
Acionistas espocando a silibina
Especulando tanto que arde
A alta do preço do preservativo de baixa qualidade
Fraternidade se conta em genocídios
Homens fardados em missões saneadoras
E as estatísticas em frenética hemorragia
Manchando os aventais dos eleitores
Na nossa era
Na nossa era
Os varões exibem vis calculadoras
Na nossa era
Na nossa era
Carros, cartões de crédito, metralhadoras
Um milhão a mais um milhão a menos
Um milhão a mais um milhão a menos
Dez milhões a mais dez milhões a menos
Cem milhões a mais cem milhões a menos
Danilo Moraes
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Maltratar não é direito
Moço! Maltratar não é direito
Moço! Maltratar não é direito
Essa mágoa no meu peito
Você sabe de onde vem
Você sabe de onde vem
Isso é desamor
E não tem jeito
Um amor quando desfeito
Sempre faz alguém chorar
Eu chorei saudade
Tá doendo
E lá vem você querendo
Outra vez me maltratar...
Um amor só é bom
Quando é prá dois
Eterno é antes e depois
Agora não vou mais me enganar
Não quero mais sofrer, não dá
Se o teu desejo era me ver
Se deu vontade de saber
Se tô feliz
Até posso dizer que sim
O teu reinado acabou
Chegou ao fim
Eu não nasci prá você
Nem você prá mim...
Maria Rita
Não Vale A Pena
Ficou difícil
Tudo aquilo, nada disso
Sobrou meu velho vício de sonhar
Ficou difícil
Tudo aquilo, nada disso
Sobrou meu velho vício de sonhar
Pular de precipício em precipício
Ossos do ofício
E depois enxergar
Que é uma pena
Mas você não vale a pena
Não vale uma fisgada dessa dor
Não cabe como rima de um poema
De tão pequeno
Mas vai e vem e envenena
E me condena ao rancor
De repente, cai o nível
E eu me sinto uma imbecil
Repetindo, repetindo, repetindo
Como num disco riscado
O velho texto batido
Dos amantes mal-amados
Dos amores mal-vividos
E o terror de ser deixada
Cutucando, relembrando, reabrindo
A mesma velha ferida
E é pra não ter recaída
Que não me deixo esquecer
Que é uma pena
Mas você não vale a pena
Mara Rita
quarta-feira, 10 de junho de 2009
domingo, 7 de junho de 2009
O Leãozinho
Gosto muito de te ver, leãozinho
Gosto muito de te ver, leãozinho
Caminhando sob o sol
Gosto muito de você, leãozinho
Para desentristecer, leãozinho
O meu coração tão só
Basta eu encontrar você no caminho
Um filhote de leão raio da manhã;
Arrastando o meu olhar
como um ímã...
O meu coração é o sol,
pai de toda cor;
Quando ele lhe doura a pele ao léu...
Gosto de te ver ao sol, leãozinho
De te ver entrar no mar
Tua pele, tua luz, tua juba
Gosto de ficar ao sol, leãozinho
De molhar minha juba
De estar perto de você e entrar no mar
Caetano Veloso
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Não me Deixes
Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava:
“Ai, não me deixes, não!"
“Comigo fica ou leva-me contigo
“Dos mares à amplidão;
“Límpido ou turvo, te amarei constante;
“Mas não me deixes, não!”
E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
“Ai, não me deixes, não!”
E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
“Ai, não me deixes, não!”
Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.
A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
“Não me deixaste, não!”
Gonçalves Dias
Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava:
“Ai, não me deixes, não!"
“Comigo fica ou leva-me contigo
“Dos mares à amplidão;
“Límpido ou turvo, te amarei constante;
“Mas não me deixes, não!”
E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
“Ai, não me deixes, não!”
E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
“Ai, não me deixes, não!”
Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.
A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
“Não me deixaste, não!”
Gonçalves Dias
A Flor e a Fonte
"Deixa-me,fonte!"Dizia
A flor,tonta de terror.
E a fonte,sonora e fria,
Cantava,levando a flor.
"Deixa-me,deixa-me,fonte!"
Dizia a flor a chorar:
"Eu fui nascida no monte..."
"Não me leves para o mar".
E a fonte,rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.
"Ai,balanços do meu galho,"
"Balanços do berço meu;"
"Ai,claras gotas de orvalho"
"Caídas do azul do céu!..."
Chorava a flor,e gemia,
Branca,branca de terror,
E a fonte, sonora e fria
Rolava,levando a flor.
Vicente de Carvalho
quarta-feira, 3 de junho de 2009
As Aparências Enganam
As aparências enganam,
aos que odeiam e
aos que amam
Porque o amor e o ódio
se irmanam na fogueira
das paixões
corações pegam
fogo e depois
não há nada
que os apague
se a combustão
os persegue,
as labaredas e
as brasas são
O alimento,
o veneno e o pão,
o vinho seco,
a recordação
Dos tempos idos de comunhão,
sonhos vividos de conviver
As aparências enganam,
aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio
se irmanam na geleira das paixões
Os corações viram gelo e,
Se a neve, cobrindo a pele,
vai esfriando por dentro o ser
Não há mais forma de se aquecer,
não há mais tempo de se esquentar
Não há mais nada pra se fazer,
senão chorar sob o cobertor
As aparências enganam,
aos que gelam e
aos que inflamam
Porque o fogo e o gelo
se irmanam no outono
das paixões
Os corações cortam lenha e,
depois, se preparam
pra outro inverno
Mas o verão que os unira,
ainda, vive e transpira ali
Nos corpos juntos na lareira,
na reticente primavera
No insistente perfume
de alguma coisa chamada amor.
Sérgio Natureza/Tunai
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