segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Fica a espéra de tudo que não vem...

Dionisio

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Dialética


É claro que a vida é boa
Visite: Mensagens, Papel de Parede, Videos E a alegria, a única indizível emoção

É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples

É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que eu sou triste…



Vinícius de Moraes

terça-feira, 8 de setembro de 2009

    Eu tenho idéias e razões,
    Conheço a cor dos argumentos
    E nunca chego aos corações.

    Fernando Pessoa, 1932
O que dizer do amor,
se não que é belo
quando nos faz sorrir
e belo quando nos faz chorar
Belo pela pura ilusão que nos
passa, o amor por vezes
é a penas uma miragem
no deserto. Que nos faz seguir
adiante tendo a boca seca
e o coração cheio de esperanças.

O que dizer do amor,
se não que é sujo
quando te fez partir
e sujo quando me fez chorar
Sujo pela enganoso encanto que nos
passa, o amor no fim
é apenas canto da sereia.
Que nos remete contra os rochedos
Tendo os olhos cheios d'aguá
e o coração despedaçado.

O amor é feito assim,
destas coisas belas e sujas.

Dionisio
Amor

Receios , desejos,
promessas de paraíso.
Depois sonhos, depois risos,
Depois beijos!
Depois...
E depois amada?
Depois dores sem remédio,
depois pranto, depois tédio,
depois...nada!



Menotti del Picchia

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

"Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros.
De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo."




Caio Fernando de Abreu

sábado, 5 de setembro de 2009

Ela X Ele na cidade sem fim

Ela não tem preço
Nem vontade
Ela não tem culpa
Nem falsidade
Ela não sabe me amar
Ela não tem jogo
Nem saudade
Ela não tem fogo
Nem muita idade
Ela não sabe me amar
Ela não saberá

Coisa de amor
De irmão
Que ela insiste e que me dá
Toda vez que eu tento
Ela sofre
Poderia ser medo
Mas como é possível

Mas então seu amor não é meu
Nem eu o seu
Pois então que será minha amada
Amadora?

Ele não tem preço
Nem vontade
Ele não tem culpa
Nem falsidade
Ele não sabe me amar
Ele não tem jogo
Nem saudade
Ele não tem fogo
Nem muita idade
Ele não sabe me amar
Ele não saberá

Mas então seu amor não é meu
Nem eu o seu
Pois então que será meu amado
Amador?

Se eles não têm pose
Nem maldade
Eles não têm culpa
Nessa cidade
Eles não sabem amar
Coisas da vida


Vanessa da Matta

sexta-feira, 4 de setembro de 2009


Raiz de água larga no rosto da noite
Produto de uma pessoa inclinada a antro
Remanso que um riacho faz sob o caule da manhã
Espécie de réstia espantada que sai pelas
frinchas de um homem

Designa também a armação de objetos lúdicos com
emprego de palavras imagens cores sons etc. -
geralmente feitos por crianças pessoas
esquisitas loucos e bêbados

Manuel de Barros
Experimentando a Manhã dos Galos
... poesias, a poesia é

- é como a boca
dos ventos
na harpa
nuvem
a comer na árvore
vazia que
desfolha a noite
raíz entrando
em orvalhos...
floresta que oculta
quem aparece
como quem fala
desaparece na boca
cigarra que estoura o
crepúsculo
que a contém
o beijo dos rios
aberto nos campos
espalmando em álacres
os pássaros
- e é livre
como um rumo
nem desconfiado...

Manoel de Barros



Sabiá com Trevas

O poema é antes de tudo um inutensílio.

Hora de iniciar algum
convém se vestir roupa de trapo.

Há quem se jogue debaixo de carro
nos primeiros instantes.

Faz bem uma janela aberta.
Uma veia aberta.

Pra mim é uma coisa que serve de nada o poema
Enquanto vida houver

Ninguém é pai de um poema sem morrer


Manuel de Barros

Uma didática da invenção

No descomeço era o verbo.
Só depois é que v
eio o delírio do verbo. O delírio
do verbo estava no começo, lá onde a criança diz:
Eu escuto a voz dos passarinhos.
A criança não sabe q
ue o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.

Então se a criança muda a função de um verbo, ele
delira.
E pois.

Em poesia que é voz de poeta, que á a voz de fazer
nascimentos _
O verbo tem que pegar delírio.


Manoel de Barros
Caçador, nos barrancos, de rãs entardecidas,
Sombra-Boa entardece. Caminha sobre estratos
de um mar extinto. Caminha sobre as conchas
dos caracóis da terra. Certa vez encontrou uma
voz sem boca. Era uma voz pequena e azul. Não
tinha boca mesmo. "Sonora voz de uma concha",
ele disse. Sombra-Boa ainda ouve nestes lugares
conversamentos de gaivotas. E passam navios
caranguejeiros por ele, carregados de lodo.
Sombra-Boa tem hora que entra em pura
decomposição lírica: "Aromas de tomilhos dementam
cigarras." Conversava em Guató, em Português, e em
Pássaro.
Me disse em Iíngua-pássaro: "Anhumas premunem
mulheres grávidas, 3 dias antes do inturgescer".
Sombra-Boa ainda fala de suas descobertas:
"Borboletas de franjas amarelas são fascinadas
por dejectos." Foi sempre um ente abençoado a
garças. Nascera engrandecido de nadezas.


Manuel de Barro

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

"Há sempre algo de ausente que me atormenta"

Camille Claudel
Como a minha a vida de Van Gogh foi marcada por fracassos. Ele falhou em todos os aspectos importantes para o seu mundo, em sua época. Foi incapaz de constituir família, custear a própria subsistência ou até mesmo manter contactos sociais. Aos 37 anos, sucumbiu a uma doença mental, suicidando-se. Porém inegavelmente hoje ele é considerado um dos grandes mestres do seu tempo se não um dos grandes mestres de todos os tempos, porem sua gloria póstuma só me entristece ainda mais. Como tu também vivo a migrar de um fracasso a outro, a espera de uma gloria tardia, uma felicidade tardia, um amor tardio e vivendo uma vida incompleta. E por entender a tua dor dou-ti meu caro amigo este cortejo de fracassos e fracassados...

Wagner B Santos
Glória moribunda

É uma visão medonha
Outrora à sombra
dos cabelos loiros,
Quando o reflexo
do viver fogoso
Ali dentro animava
o pensamento,
Esta fronte era bela.
Aqui nas faces
Formosa palidez
cobria o rosto...
Nessas órbitas?
ocas, denegridas! ?
Como era puro
seu olhar sombrio!


Agora tudo é cinza.

Resta apenas
A caveira que a alma

em si guardava,
Como a concha no mar

encerra a pérola,
Como a caçoula a

mirra incandescente.


Que espaçosa fronte!
Quanta vida ali

dentro fermentava,
Como a seiva nos

ramos do arvoredo!
E a sede em fogo

das idéias vivas
Onde está? onde foi?

Essa alma errante
Que um dia no viver

passou cantando,
Como canta na treva

um vagabundo,
Perdeu-se acaso

no sombrio vento,
Como noturna lâmpada,

apagou-se?
E a centelha da vida,

o eletrismo
Que as fibras

tremulantes agitava
Morreu para animar

futuras vidas?



Àlvares de Azevedo



Le mauvais moine

Os claustros antigos em suas grandes muralhas
Expunham em quadros a santa Verdade,
Cujo efeito aquecendo as pias entranhas,
Temperava a frieza de sua auteridade.

Nesses tempos em que do Cristo floresciam as semeaduras,
Mais de um ilustre monge, hoje em dia pouco citado,
Tomando por ateliê o cemitério,
Glorificava a Morte com simplicidade.

– Minha alma é um túmulo que, mau cenobita,
Desde a eternidade percorro e habito;
Nada embeleza as paredes desse claustro odioso.

Ó monge ocioso! quando hei de saber fazer
Do espetáculo vivo de minha triste miséria
O trabalho de minhas mãos e o amor de meus olhos?


Charles Baudelaire