quinta-feira, 23 de julho de 2009

Mulher no Espelho

Hoje, que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz,
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
Que mal fez, essa cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se é tudo tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira,
a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.


Cecília Meireles
Metamorfose

Súbito pássaro
dentro dos muros
caído,

pálido barco
na onda serena
chegado.

Noite sem braços!
Cálido sangue
corrido.

E imensamente
o navegante
mudado.

Seus olhos densos
apenas sabem
ter sido.

Seu lábio leva
um outro nome
mandado.

Súbito pássaro
por altas nuvens
bebido.

Pálido barco
nas flores quietas
quebrado.

Nunca, jamais
e para sempre
perdido

o eco do corpo
no próprio vento
pregado.


Cecília Meireles

Reinveção

A vida só é possível
reinventada.

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pela águas, pelas folhas...
Ah! Tudo bolhas
que vêm de fundas piscinas
de ilusionismo... -mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reiventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudos mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...
Só - no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só - na treva,
fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.


Cecília Meireles

sexta-feira, 17 de julho de 2009

''Eu vou mal e irei pior ainda mas aprendo pouco a pouco a ser só, e isso já é alguma coisa, uma vantagem, um pequeno triunfo.''


Frida Kahlo
Suicida

Seria suicídio
se eu levantasse, derrubasse os lençóis
e dançasse?
Os homens dançam
enquanto doem!
Enquanto caçam uma lembrança
para transformá-la
em virtual realidade.

Será que você entende?
Você que me escutasem
pluralizar minhas palavras?
Você, tão cuidadoso com seu dia,
sem querer desperdiçá-lo
com instantes...

Seria um milagre
se eu revirasse as gaveta
se encontrasse um sonho?
Onde eu pudesse cantar,
exorcizar o silêncio...Venha...
Venha dançar e acredite,
ainda sei encontrar alguém
e olhar dentro dos olhos dele!
Ainda...

Carla Dias
Sem remédio

Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.

E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!

Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!

E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!

Florbela Espanca

quinta-feira, 16 de julho de 2009

"Por que o chamo meu Diego? Nunca foi, nem será meu. É dele mesmo. Ele leva uma vida plena, sem o vazio da minha. Não tenho nada porque não o tenho.''



Frida Kahlo
Acalanto

Vai amado.
Busca por onde quiseres,
com quem quiseres,como quiseres,
o prazer.

Até mesmo,aquele prazer que um dia
alguém apelidou de amor.
E, se por acaso te cansares e,
do compromisso que um dia nos uniu te lembrares,
se desejares, volta.

Serei a que conforta.

Não saberás da dor, da saudade,
das lágrimas sentidas que tua ausência causou.






Ada Ciocci
Lágrima

Cheia de penas me deito
E com mais penas me levanto
Já me ficou no meu peito
O jeito de te querer tanto

Tenho por meu desespero
Dentro de mim o castigo
Eu digo que não te quero
E de noite sonho contigo

Se considero que um dia hei-de morrer
No desespero que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile no chão

E deixo-me adormecer
Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias de chorar

Por uma lágrima tua
Que alegria me deixaria matar


Amália Rodrigues

terça-feira, 14 de julho de 2009

"Só eu sei de minhas dores, angústias e amores."



Frida Kahlo

domingo, 12 de julho de 2009

Lágrimas ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!


Florbela Espanca




quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sem remédio

Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.

E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!

Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!

E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!

Florbela Espanca


terça-feira, 7 de julho de 2009

" Não sou surrealista, pinto a minha própria realidade".


Frida Kahlo

quinta-feira, 2 de julho de 2009

"Espero a partida com alegria...e espero nunca mais voltar."



Frida Kahlo