quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Glória moribunda

É uma visão medonha
Outrora à sombra
dos cabelos loiros,
Quando o reflexo
do viver fogoso
Ali dentro animava
o pensamento,
Esta fronte era bela.
Aqui nas faces
Formosa palidez
cobria o rosto...
Nessas órbitas?
ocas, denegridas! ?
Como era puro
seu olhar sombrio!


Agora tudo é cinza.

Resta apenas
A caveira que a alma

em si guardava,
Como a concha no mar

encerra a pérola,
Como a caçoula a

mirra incandescente.


Que espaçosa fronte!
Quanta vida ali

dentro fermentava,
Como a seiva nos

ramos do arvoredo!
E a sede em fogo

das idéias vivas
Onde está? onde foi?

Essa alma errante
Que um dia no viver

passou cantando,
Como canta na treva

um vagabundo,
Perdeu-se acaso

no sombrio vento,
Como noturna lâmpada,

apagou-se?
E a centelha da vida,

o eletrismo
Que as fibras

tremulantes agitava
Morreu para animar

futuras vidas?



Àlvares de Azevedo



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