É uma visão medonha
Outrora à sombra
dos cabelos loiros,
Quando o reflexo
do viver fogoso
Ali dentro animava
o pensamento,
Esta fronte era bela.
Aqui nas faces
Formosa palidez
cobria o rosto...
Nessas órbitas?
ocas, denegridas! ?
Como era puro
seu olhar sombrio!
Agora tudo é cinza.
Resta apenas
A caveira que a alma
em si guardava,
Como a concha no mar
encerra a pérola,
Como a caçoula a
mirra incandescente.
Que espaçosa fronte!
Quanta vida ali
dentro fermentava,
Como a seiva nos
ramos do arvoredo!
E a sede em fogo
das idéias vivas
Onde está? onde foi?
Essa alma errante
Que um dia no viver
passou cantando,
Como canta na treva
um vagabundo,
Perdeu-se acaso
no sombrio vento,
Como noturna lâmpada,
apagou-se?
E a centelha da vida,
o eletrismo
Que as fibras
tremulantes agitava
Morreu para animar
futuras vidas?
Àlvares de Azevedo
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