quinta-feira, 21 de maio de 2009

EU

Como descrever-me sem soar falso, ou verdadeiro demais para ser compreendido, acho que a melhor maneira de me descrever não é pelo que sou, mas pelo que não sou, ou não pude ser, bem não pude ser o novo Fernando Pessoa, mesmo eu sendo assim por excelência um fingidor, porem faltou-me a mim esta fina flor do lacio a povoar meu coração, também não pude ser Salvador Dali, por imprudência do destino, que o matou no dia do meu sexto aniversario, também não pude ser Richard Wagner mesmo ele morrendo exactamente 100 anos e 10 dias antes do meu nascimento, já me perguntei se não seria eu sua Reencarnação desmedida nesta terra fria, porem diferente dele apenas amo a musica ela transpassa e repassa meu ser, porem não a crio (e não sei se por despeito ou coisa assim, mas ando a questionar a reencarnação).
E Neste desalento sem fim também não tive minha vida narrada por um conto de Edgar Alan Poe (uma injustiça injustificável), perdoada apenas pelo fato de saber que um dia minha vida virará o enredo de um filme de Lars von Trier, e que talvez eu seja escalado para um papel pequeno.
Sei que dentro de mim, a uma inquietude sem fim, um não me encaixar ou achar, e devido a isso o simples fato de que eu possa não ser daqui, já me passou pela cabeça milhares de vezes quantas noites infindas imaginando de onde vim e como vim parar aqui, mas tudo que pude imaginar já havia sido escrito anteriormente por Antoine De Saint, e me peguei choroso a esperar um garotinho de cabelos dourados voltar.
Mas talvez só talvez eu possa ser Florbela Espanca, pois"eu sou o que no mundo anda perdida(o)", sim perdido, pois nunca acho meu norte (ando querendo mais que nunca o norte), lembro vagamente do leste e oeste, vivos em mim apenas a cada nascer e por do sol ( sim ainda vejo o nascer e o por do sol.. creio que mais pelas desmazelas da vida ou que pelo acaso do destino, pois por ir dormir as 5 da madrugada e só sair de casa as 5 da tarde para minha caminhada diária quando o sol já esta se pondo). Mesmo assim e belo ver o sol nascer e morrer a cada dia, esta eterna efemeridade me encanta.
Mas tal qual Hilda Hilste "tenho meditado e sofrido", nestes últimos tempos por uma gama de razões que poderia como Penélope tecer e destecer para tentar me explicar, sem na verdade nada dizer, mas estaria tecendo uma mortalha para um amor perdido, tenho o dom de amar perdidamente o que passou certamente herdei este mal de um sábio e triste cancioneiro, pois como ele "Eu amo tudo o que foi Tudo o que já não é", e é deste amor desmedido que sofremos nossas dores, ah! Fernando como queria consolar tua pessoa, sei a dor de se oferecer por inteiro e quererem de ti só a metade.
Talvez eu também seja apenas um fingidor, que finge ser, estar, querer, deixar e amar. Busco tão desesperadamente o amor mas ao mesmo passo o impeço de chegar até mim, não sei se é medo de sofrer ou de ser feliz, mas mato em mim toda a possibilidade de amor, como uma esfinge, como já me acusava Miryam Fraga "Adivinho-me nas vítimas Que estraçalho".
Bem este sou eu este ser incompleto mas que é inteiro prata, dez mil sóis. E que fica a deriva na terceira margem do rio, sem nunca partir sem nunca chegar, vivendo a lutar contra a corrente, as vezes altivo as vezes destroçado, e tão oposto ao que queria ser. E nesta eterna busca por um cais, me clamando como eterno navegante, porem talvez eu não seja o navegante mas "canto da sereia esperando o naufrágio das embarcações."






Dionísio

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