quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei,
Me debrucei sobre
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teu peito, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua
Chico Buarque
domingo, 6 de dezembro de 2009
domingo, 29 de novembro de 2009
Fernando Pesssoa
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Tatiava lentamente
a pobre criatura em sua mão,
entre o espremer e o segurar
entre a inveja e a compaixão.
Em seus olhos um misto
de desespero e suplica,
o fitar os mórbidos olhos do algoz.
E aperta lentamente sua mão
como se apertasse
seu próprio coração.
Segurava em sua mão
toda liberdade que não tinha.
Dionísio
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
E teve Rufus, Quintius, Gelius
Inacius e Ravidus
Tu podes muito bem, Dionísio,
Ter mais cinco mulheres
E desprezar Ariana
Que é centelha e âncora
E refrescar tuas noites
Com teus amores breves.
Ariana e Catulo, luxuriantes
Pretendem eternidade, e a coisa breve
A alma dos poetas não inflama.
Hilda Hislt
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?
Hilda Hilst
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos. Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
Hilda Hilst
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.
Castro Alves
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais!
Qual num sonho dantesco
as sombras voam...
Gritos, ais, maldições,
preces ressoam!
E ri-se Satanaz!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!..
Castro Alvez
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Será que eu sou capaz
De enfrentar o teu amor
Que me traz insegurança
E verdade demais?
Será que eu sou capaz?
Veja bem quem eu sou
Com teu amor eu quero que sintas dor
Eu quero ver-te em sangue e ser teu credor
Veja bem quem eu sou
Quero rasgar-te e ver o sangue manchar
Toda a pureza que vem do teu olhar
Eu não sei mais sentir
Renato Russo
Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão, enfim
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar para mim
Queixo-me às rosas, mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim.
Cartola
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Nasce um deus. Outros morrem. A Verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.
Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.
Fernando Pessoa
Nada mais perigoso que as certezas
ceifardoras de vidas e de almas
nada mais nocivo a liberdade
que a permanência
e o silencio cúmplice
Diante das mais
variadas convicções
cheias de formas e modelos
pregando regiamente
Sua maneira particular,
única e vazia de viver
Neste mundo pétreo de certezas
Gosto da arenosa incerteza
das dunas de areia
que vem e vão
que nada asseguram
e nada tem
Mas que só por um instante
por um misero estante
dançam eternamente sobre seus pés
Dionísio
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
É claro que a vida é boa
Visite: Mensagens, Papel de Parede, Videos E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste…
Vinícius de Moraes
terça-feira, 8 de setembro de 2009
se não que é belo
quando nos faz sorrir
e belo quando nos faz chorar
Belo pela pura ilusão que nos
passa, o amor por vezes
é a penas uma miragem
no deserto. Que nos faz seguir
adiante tendo a boca seca
e o coração cheio de esperanças.
O que dizer do amor,
se não que é sujo
quando te fez partir
e sujo quando me fez chorar
Sujo pela enganoso encanto que nos
passa, o amor no fim
é apenas canto da sereia.
Que nos remete contra os rochedos
Tendo os olhos cheios d'aguá
e o coração despedaçado.
O amor é feito assim,
destas coisas belas e sujas.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo."
Caio Fernando de Abreu
sábado, 5 de setembro de 2009
Ela não tem preço
Nem vontade
Ela não tem culpa
Nem falsidade
Ela não sabe me amar
Ela não tem jogo
Nem saudade
Ela não tem fogo
Nem muita idade
Ela não sabe me amar
Ela não saberá
Coisa de amor
De irmão
Que ela insiste e que me dá
Toda vez que eu tento
Ela sofre
Poderia ser medo
Mas como é possível
Mas então seu amor não é meu
Nem eu o seu
Pois então que será minha amada
Amadora?
Ele não tem preço
Nem vontade
Ele não tem culpa
Nem falsidade
Ele não sabe me amar
Ele não tem jogo
Nem saudade
Ele não tem fogo
Nem muita idade
Ele não sabe me amar
Ele não saberá
Mas então seu amor não é meu
Nem eu o seu
Pois então que será meu amado
Amador?
Se eles não têm pose
Nem maldade
Eles não têm culpa
Nessa cidade
Eles não sabem amar
Coisas da vida
Vanessa da Matta
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Raiz de água larga no rosto da noite
Produto de uma pessoa inclinada a antro
Remanso que um riacho faz sob o caule da manhã
Espécie de réstia espantada que sai pelas
frinchas de um homem
Designa também a armação de objetos lúdicos com
emprego de palavras imagens cores sons etc. -
geralmente feitos por crianças pessoas
esquisitas loucos e bêbados
Manuel de Barros
... poesias, a poesia é
- é como a boca
dos ventos
na harpa
nuvem
a comer na árvore
vazia que
desfolha a noite
raíz entrando
em orvalhos...
floresta que oculta
quem aparece
como quem fala
desaparece na boca
cigarra que estoura o
crepúsculo
que a contém
o beijo dos rios
aberto nos campos
espalmando em álacres
os pássaros
- e é livre
como um rumo
nem desconfiado...
Manoel de Barros
O poema é antes de tudo um inutensílio.
Hora de iniciar algum
convém se vestir roupa de trapo.
Há quem se jogue debaixo de carro
nos primeiros instantes.
Faz bem uma janela aberta.
Uma veia aberta.
Pra mim é uma coisa que serve de nada o poema
Enquanto vida houver
Ninguém é pai de um poema sem morrer
Manuel de Barros
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo. O delírio
do verbo estava no começo, lá onde a criança diz:
Eu escuto a voz dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele
delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que á a voz de fazer
nascimentos _
O verbo tem que pegar delírio.
Sombra-Boa entardece. Caminha sobre estratos
de um mar extinto. Caminha sobre as conchas
dos caracóis da terra. Certa vez encontrou uma
voz sem boca. Era uma voz pequena e azul. Não
tinha boca mesmo. "Sonora voz de uma concha",
ele disse. Sombra-Boa ainda ouve nestes lugares
conversamentos de gaivotas. E passam navios
caranguejeiros por ele, carregados de lodo.
Sombra-Boa tem hora que entra em pura
decomposição lírica: "Aromas de tomilhos dementam
cigarras." Conversava em Guató, em Português, e em
Pássaro.
Me disse em Iíngua-pássaro: "Anhumas premunem
mulheres grávidas, 3 dias antes do inturgescer".
Sombra-Boa ainda fala de suas descobertas:
"Borboletas de franjas amarelas são fascinadas
por dejectos." Foi sempre um ente abençoado a
garças. Nascera engrandecido de nadezas.
Manuel de Barro
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Wagner B Santos
É uma visão medonha
Outrora à sombra
dos cabelos loiros,
Quando o reflexo
do viver fogoso
Ali dentro animava
o pensamento,
Esta fronte era bela.
Aqui nas faces
Formosa palidez
cobria o rosto...
Nessas órbitas?
ocas, denegridas! ?
Como era puro
seu olhar sombrio!
Agora tudo é cinza.
Resta apenas
A caveira que a alma
em si guardava,
Como a concha no mar
encerra a pérola,
Como a caçoula a
mirra incandescente.
Que espaçosa fronte!
Quanta vida ali
dentro fermentava,
Como a seiva nos
ramos do arvoredo!
E a sede em fogo
das idéias vivas
Onde está? onde foi?
Essa alma errante
Que um dia no viver
passou cantando,
Como canta na treva
um vagabundo,
Perdeu-se acaso
no sombrio vento,
Como noturna lâmpada,
apagou-se?
E a centelha da vida,
o eletrismo
Que as fibras
tremulantes agitava
Morreu para animar
futuras vidas?
Àlvares de Azevedo
Os claustros antigos em suas grandes muralhas
Expunham em quadros a santa Verdade,
Cujo efeito aquecendo as pias entranhas,
Temperava a frieza de sua auteridade.
Nesses tempos em que do Cristo floresciam as semeaduras,
Mais de um ilustre monge, hoje em dia pouco citado,
Tomando por ateliê o cemitério,
Glorificava a Morte com simplicidade.
– Minha alma é um túmulo que, mau cenobita,
Desde a eternidade percorro e habito;
Nada embeleza as paredes desse claustro odioso.
Ó monge ocioso! quando hei de saber fazer
Do espetáculo vivo de minha triste miséria
O trabalho de minhas mãos e o amor de meus olhos?
Charles Baudelaire
sábado, 29 de agosto de 2009
terça-feira, 25 de agosto de 2009
in "Le Petit Prince", Antoine de Saint-Exupéry
"Para mim, esta é a paisagem mais bela e mais triste do mundo. É a mesma paisagem da página anterior, mas eu voltei a desenhá-la para vocês a verem melhor. Foi aqui que o principezinho fez a sua aparição na Terra e depois desapareceu.
in "Le Petit Prince", Antoine de Saint-Exupér
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Hoje, que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz,
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
Que mal fez, essa cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se é tudo tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira,
a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.
Cecília Meireles