quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Eu vi quando você me viu. Seus olhos buscaram nos meus
O mesmo pecado febril.

Maria Rita

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Um dia frio Um bom lugar prá ler um livro E o pensamento lá em você Eu sem você não vivo Um dia triste Toda fragilidade incide E o pensamento lá em você E tudo me divide.


Djavan

Quando olhaste bem
nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei,
eu te estranhei
Me debrucei sobre
teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teu peito, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua


Chico Buarque

domingo, 6 de dezembro de 2009

"Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dara mão e acorrentar a alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se,e que companhia nem sempre significa segurança.


E começa aprender que beijos não são contratos, e que presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e os olhos adiante, com graça de um adulto e não a tristeza de uma criança.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair meio em vão."



William Shakespeare

domingo, 29 de novembro de 2009


Quero ficar no teu corpo Feito tatuagem Que é prá te dar coragem Prá seguir viagem Quando a noite vem... Quero ser a cicatriz Risonha e corrosiva Marcada a frio Ferro e fogo Em carne viva...

Chico Buarque
Os meus passos vão leves sobre as relvas, como se fossem memórias. Dizem que sou a maravilha, mas eu não sei quem sou. Habita em mim um fluido de desastres que cai sobre as épocas futuras como uma chuva que é nevoeiro.


Sou fatal como as noites e os outonos, e no meu coração há já uma saudade de todos quantos matarei.



Fernando Pesssoa
Ando tão a flor
da pele
Meu desejo
se confunde
Com a vontade
de não ser

Ando tão a flor
da pele
Que a minha pele
tem o fogo
De um juízo final..









Jards Macalé
Wally Salomão

quinta-feira, 26 de novembro de 2009


Você pode até me empurrar de um penhasco,que eu vou dizer:
E daí? Eu adoro voar!

Clarice Lispector
Inveja atroz

Tatiava lentamente
a pobre criatura em sua mão,
entre o espremer e o segurar
entre a inveja e a compaixão.

Em seus olhos um misto
de desespero e suplica,
o fitar os mórbidos olhos do algoz.

E aperta lentamente sua mão
como se apertasse
seu próprio coração.

Segurava em sua mão
toda liberdade que não tinha.


Dionísio
Voar, voar
Subir, subir
Ir por onde for
Descer até o céu cair
Ou mudar de cor
Anjos de gás
Asas de ilusão
E um sonho audaz
Feito um balão...

No ar, no ar
Eu sou assim
Brilho do farol
Além do mais
Amargo fim
Simplesmente sol...


Claudio Rabelo

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

jardim das delicias terrestres

Bosch
Se Clódia desprezou Catulo
E teve Rufus, Quintius, Gelius
Inacius e Ravidus
Tu podes muito bem, Dionísio,
Ter mais cinco mulheres
E desprezar Ariana
Que é centelha e âncora

E refrescar tuas noites
Com teus amores breves.
Ariana e Catulo, luxuriantes
Pretendem eternidade, e a coisa breve
A alma dos poetas não inflama.

Hilda Hislt
Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?

Hilda Hilst
Mas posso, encantada, se quiseres

Deitar-me com o amigo que escolheres
E ensinar à mulher e a ti, Dionísio,

A eloqüência da boca nos prazeres
E plantar no teu peito, prodigiosa
Um ciúme venenoso e derradeiro.


Hilda Hilst

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?

Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas

Obscenas, porque era assim que gostávamos.

Mas não menti gozo prazer lascívia

Nem omiti que a alma está além, buscando

Aquele Outro. E te repito: por que haverias

De querer minha alma na tua cama?

Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

Hilda Hilst

terça-feira, 17 de novembro de 2009


Abandonai toda esperança, vós que entrais!

A divina comédia
Dante Alighieri

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

"Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?!"

Castro Alves
Era um sonho dantesco... o tombadilho,
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.


Castro Alves
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais!
Qual num sonho dantesco
as sombras voam...
Gritos, ais, maldições,
preces ressoam!
E ri-se Satanaz!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!..


Castro Alvez

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

"Flores por todos os lados, flores em tudo que eu vejo"


Titâns
A tempestade


Será que eu sou capaz
De enfrentar o teu amor
Que me traz insegurança
E verdade demais?
Será que eu sou capaz?

Veja bem quem eu sou
Com teu amor eu quero que sintas dor
Eu quero ver-te em sangue e ser teu credor
Veja bem quem eu sou

Trouxe flores mortas pra ti
Quero rasgar-te e ver o sangue manchar
Toda a pureza que vem do teu olhar
Eu não sei mais sentir


Renato Russo
Exagerado


Paixão cruel desenfreada
Te trago mil rosas roubadas
Pra desculpar minhas mentiras
Minhas mancadas

Jogado aos teus pés
Com mil rosas roubadas
Exagerado
Eu adoro um amor inventado



Cazuza
Primavera

Quando o inverno chegar
Eu quero estar junto a ti
Pode o outono voltar
Que eu quero estar junto a ti
eu quero estar junto a ti
Porque é primavera
Te amo
é primavera, te amo
meu amor

Trago essa rosa, para lhe dar
Trago essa rosa, para lhe dar
Trago essa rosa, para lhe dar
meu amor.


Tim Maia
Queixo-me as Rosas


Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão, enfim

Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar para mim

Queixo-me às rosas, mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai

Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim.



Cartola

quinta-feira, 1 de outubro de 2009


"Eu sou o espírito que tudo nega! E assim é, pois tudo o que existe merece perecer miseravelmente."


Mefisto em o fausto de Goethe
Natal

Nasce um deus. Outros morrem. A Verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.

Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.






Fernando Pessoa
Corações Pétreos

Nada mais perigoso que as certezas
ceifardoras de vidas e de almas
nada mais nocivo a liberdade
que a permanência
e o silencio cúmplice

Diante das mais
variadas convicções
cheias de formas e modelos
pregando regiamente
Sua maneira particular,
única e vazia de viver

Neste mundo pétreo de certezas
Gosto da arenosa incerteza
das dunas de areia
que vem e vão
que nada asseguram
e nada tem

Mas que só por um instante
por um misero estante
dançam eternamente sobre seus pés



Dionísio

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Fica a espéra de tudo que não vem...

Dionisio

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Dialética


É claro que a vida é boa
Visite: Mensagens, Papel de Parede, Videos E a alegria, a única indizível emoção

É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples

É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que eu sou triste…



Vinícius de Moraes

terça-feira, 8 de setembro de 2009

    Eu tenho idéias e razões,
    Conheço a cor dos argumentos
    E nunca chego aos corações.

    Fernando Pessoa, 1932
O que dizer do amor,
se não que é belo
quando nos faz sorrir
e belo quando nos faz chorar
Belo pela pura ilusão que nos
passa, o amor por vezes
é a penas uma miragem
no deserto. Que nos faz seguir
adiante tendo a boca seca
e o coração cheio de esperanças.

O que dizer do amor,
se não que é sujo
quando te fez partir
e sujo quando me fez chorar
Sujo pela enganoso encanto que nos
passa, o amor no fim
é apenas canto da sereia.
Que nos remete contra os rochedos
Tendo os olhos cheios d'aguá
e o coração despedaçado.

O amor é feito assim,
destas coisas belas e sujas.

Dionisio
Amor

Receios , desejos,
promessas de paraíso.
Depois sonhos, depois risos,
Depois beijos!
Depois...
E depois amada?
Depois dores sem remédio,
depois pranto, depois tédio,
depois...nada!



Menotti del Picchia

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

"Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros.
De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo."




Caio Fernando de Abreu

sábado, 5 de setembro de 2009

Ela X Ele na cidade sem fim

Ela não tem preço
Nem vontade
Ela não tem culpa
Nem falsidade
Ela não sabe me amar
Ela não tem jogo
Nem saudade
Ela não tem fogo
Nem muita idade
Ela não sabe me amar
Ela não saberá

Coisa de amor
De irmão
Que ela insiste e que me dá
Toda vez que eu tento
Ela sofre
Poderia ser medo
Mas como é possível

Mas então seu amor não é meu
Nem eu o seu
Pois então que será minha amada
Amadora?

Ele não tem preço
Nem vontade
Ele não tem culpa
Nem falsidade
Ele não sabe me amar
Ele não tem jogo
Nem saudade
Ele não tem fogo
Nem muita idade
Ele não sabe me amar
Ele não saberá

Mas então seu amor não é meu
Nem eu o seu
Pois então que será meu amado
Amador?

Se eles não têm pose
Nem maldade
Eles não têm culpa
Nessa cidade
Eles não sabem amar
Coisas da vida


Vanessa da Matta

sexta-feira, 4 de setembro de 2009


Raiz de água larga no rosto da noite
Produto de uma pessoa inclinada a antro
Remanso que um riacho faz sob o caule da manhã
Espécie de réstia espantada que sai pelas
frinchas de um homem

Designa também a armação de objetos lúdicos com
emprego de palavras imagens cores sons etc. -
geralmente feitos por crianças pessoas
esquisitas loucos e bêbados

Manuel de Barros
Experimentando a Manhã dos Galos
... poesias, a poesia é

- é como a boca
dos ventos
na harpa
nuvem
a comer na árvore
vazia que
desfolha a noite
raíz entrando
em orvalhos...
floresta que oculta
quem aparece
como quem fala
desaparece na boca
cigarra que estoura o
crepúsculo
que a contém
o beijo dos rios
aberto nos campos
espalmando em álacres
os pássaros
- e é livre
como um rumo
nem desconfiado...

Manoel de Barros



Sabiá com Trevas

O poema é antes de tudo um inutensílio.

Hora de iniciar algum
convém se vestir roupa de trapo.

Há quem se jogue debaixo de carro
nos primeiros instantes.

Faz bem uma janela aberta.
Uma veia aberta.

Pra mim é uma coisa que serve de nada o poema
Enquanto vida houver

Ninguém é pai de um poema sem morrer


Manuel de Barros

Uma didática da invenção

No descomeço era o verbo.
Só depois é que v
eio o delírio do verbo. O delírio
do verbo estava no começo, lá onde a criança diz:
Eu escuto a voz dos passarinhos.
A criança não sabe q
ue o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.

Então se a criança muda a função de um verbo, ele
delira.
E pois.

Em poesia que é voz de poeta, que á a voz de fazer
nascimentos _
O verbo tem que pegar delírio.


Manoel de Barros
Caçador, nos barrancos, de rãs entardecidas,
Sombra-Boa entardece. Caminha sobre estratos
de um mar extinto. Caminha sobre as conchas
dos caracóis da terra. Certa vez encontrou uma
voz sem boca. Era uma voz pequena e azul. Não
tinha boca mesmo. "Sonora voz de uma concha",
ele disse. Sombra-Boa ainda ouve nestes lugares
conversamentos de gaivotas. E passam navios
caranguejeiros por ele, carregados de lodo.
Sombra-Boa tem hora que entra em pura
decomposição lírica: "Aromas de tomilhos dementam
cigarras." Conversava em Guató, em Português, e em
Pássaro.
Me disse em Iíngua-pássaro: "Anhumas premunem
mulheres grávidas, 3 dias antes do inturgescer".
Sombra-Boa ainda fala de suas descobertas:
"Borboletas de franjas amarelas são fascinadas
por dejectos." Foi sempre um ente abençoado a
garças. Nascera engrandecido de nadezas.


Manuel de Barro

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

"Há sempre algo de ausente que me atormenta"

Camille Claudel
Como a minha a vida de Van Gogh foi marcada por fracassos. Ele falhou em todos os aspectos importantes para o seu mundo, em sua época. Foi incapaz de constituir família, custear a própria subsistência ou até mesmo manter contactos sociais. Aos 37 anos, sucumbiu a uma doença mental, suicidando-se. Porém inegavelmente hoje ele é considerado um dos grandes mestres do seu tempo se não um dos grandes mestres de todos os tempos, porem sua gloria póstuma só me entristece ainda mais. Como tu também vivo a migrar de um fracasso a outro, a espera de uma gloria tardia, uma felicidade tardia, um amor tardio e vivendo uma vida incompleta. E por entender a tua dor dou-ti meu caro amigo este cortejo de fracassos e fracassados...

Wagner B Santos
Glória moribunda

É uma visão medonha
Outrora à sombra
dos cabelos loiros,
Quando o reflexo
do viver fogoso
Ali dentro animava
o pensamento,
Esta fronte era bela.
Aqui nas faces
Formosa palidez
cobria o rosto...
Nessas órbitas?
ocas, denegridas! ?
Como era puro
seu olhar sombrio!


Agora tudo é cinza.

Resta apenas
A caveira que a alma

em si guardava,
Como a concha no mar

encerra a pérola,
Como a caçoula a

mirra incandescente.


Que espaçosa fronte!
Quanta vida ali

dentro fermentava,
Como a seiva nos

ramos do arvoredo!
E a sede em fogo

das idéias vivas
Onde está? onde foi?

Essa alma errante
Que um dia no viver

passou cantando,
Como canta na treva

um vagabundo,
Perdeu-se acaso

no sombrio vento,
Como noturna lâmpada,

apagou-se?
E a centelha da vida,

o eletrismo
Que as fibras

tremulantes agitava
Morreu para animar

futuras vidas?



Àlvares de Azevedo



Le mauvais moine

Os claustros antigos em suas grandes muralhas
Expunham em quadros a santa Verdade,
Cujo efeito aquecendo as pias entranhas,
Temperava a frieza de sua auteridade.

Nesses tempos em que do Cristo floresciam as semeaduras,
Mais de um ilustre monge, hoje em dia pouco citado,
Tomando por ateliê o cemitério,
Glorificava a Morte com simplicidade.

– Minha alma é um túmulo que, mau cenobita,
Desde a eternidade percorro e habito;
Nada embeleza as paredes desse claustro odioso.

Ó monge ocioso! quando hei de saber fazer
Do espetáculo vivo de minha triste miséria
O trabalho de minhas mãos e o amor de meus olhos?


Charles Baudelaire

sábado, 29 de agosto de 2009

"Siga o coelho branco..."


Still Doll

Olá senhorita Alice
Em seus olhos de vidro,
Que tipo de sonho
Está vendo?
Está vendo?

Mais uma vez,
meu coração estoura,
e está jorrando...

"Concerte-o",
dizem as memórias
presas na fenda.

Você ainda não responde.
Você ainda não responde.





Konon Wakeshima

terça-feira, 25 de agosto de 2009

“As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas.”



in "Le Petit Prince", Antoine de Saint-Exupéry
O Pequeno Principe e a Raposa

"- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos d uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo..."


in "Le Petit Prince", Antoine de Saint-Exupéry
O Pequeno Principe

"Para mim, esta é a paisagem mais bela e mais triste do mundo. É a mesma paisagem da página anterior, mas eu voltei a desenhá-la para vocês a verem melhor. Foi aqui que o principezinho fez a sua aparição na Terra e depois desapareceu.
Olhem bem para esta paisagem para a poderem reconhecer se um dia forem a África, ao deserto. Se passarem por aqui, suplico-vos: não tenham pressa, fiquem um bocado à espera mesmo por baixo da estrela! Se um menino vier ter convosco, um menino que está sempre a rir, um menino com cabelos cor de ouro e que nunca responde quando se lhe faz uma pergunta, já sabem quem ele é. Então, por favor, sejam simpáticos! Não me deixem ficar assim triste: escrevam-me depressa a dizer que ele voltou..."




in "Le Petit Prince", Antoine de Saint-Exupér

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Mulher no Espelho

Hoje, que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz,
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
Que mal fez, essa cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se é tudo tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira,
a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.


Cecília Meireles